6 de novembro de 2010

Mulher: Vítima ou Cúmplice de sua própria Desgraça?


MULHER, VÍTIMA OU CÚMPLICE DE SUA PRÓPRIA DESGRAÇA?
por Profa. Gislene Camargo (UNEB - Campus XX)

Nesta última semana, uma notícia dramática a mais foi anunciada num programa de rádio em rede nacional: Marido raivoso estrangula esposa que trocara seu nome por outro na hora do amor. O marido, confessada a traição da mulher e sendo rebaixado na sua atuação sexual, como bom macho brasileiro, lava sua “honra” com a morte da traidora. O radialista enfatizou que o assassino poderia esperar o julgamento em liberdade por haver se entregado e mostrado o corpo escondido embaixo da cama, testemunha de antigas declarações de amor e ódio.


Este é um fato a mais, entre assassinatos, espancamentos, abandonos... ratificadores do poder masculino sobre um ser que há muito vem sendo exposto a ele como seu objeto de mando e desmando: a mulher. Como mãe, irmã, namorada, esposa ou amante sempre ela esteve condicionada a um papel de escrava destes “machos” preparados ao longo da história humana para mandar, determinar o que deveria ser ou não feito, desde que suas vontades fossem obedecidas. A família atua neste teatro para perpetuar o ato poder X obediência, quando prende ao longo de suas gerações “suas cabritas” e solta “seus bodes” - expressão nordestina ainda muito utilizada em pleno século XXI –; daí a aviltante situação feminina que temos hoje, apesar do crescimento tecnológico, das oportunidades educacionais e profissionais que a sociedade doa ao aparente sexo frágil.

Observando as aparições das mulheres “de sucesso” na mídia brasileira, devemos enfatizar nosso país que é o temos de mais palpável, percebe-se o eterno objeto ao qual está condicionado esse ser que detem a mesma condição que seu algoz. Algoz sim, pois a manipulação que faz desta, que deveria ser sua companheira, é de escravidão, abuso permitido pelo sediado.

Por outro lado, esta não é mais tão inocente para não perceber o que está acontecendo e não está impossibilitada de reação. Sua aceitação em posar pra uma revista masculina, de expor sua intimidade para um público desconhecido para quem sua integridade nada vale não a incomoda; o rendimento é muito maior, e mais rápido que o salário digno de uma profissional normal. O rebolar, o roçar de corpos extasiados pelo prazer fácil, e de graça (pois, ás vezes, nem sentimento é exigido), em bailes funks, de arrocha não a faz se sentir mal, porque foi o que lhe ensinaram: a arma feminina é a forma do corpo, a beleza que deve ser usada para obtenção, o mais rápido possível, de segurança, de dinheiro, de proteção através da profissão da moda, de um relacionamento ou sabe-se o que mais.

Então temos a soma de um estado de perpetuação de um costume que há muito choca as pessoas cujos olhos têm o poder de realmente ver o que se passa e não apenas passam a vista sem analisar à sua volta; com o comodismo, a aceitação de um estado de eternas “coitadinhas”, dependentes, frágeis, indivíduos cuja estratégia de sobrevivência, está na manipulação disfarçada( muitas vezes em amor, em todas as suas manifestações) da espécie do sexo oposto. Pelas propagandas dos mais diversos produtos desfilam os objetos incentivadores do sucesso de venda do produto: bundas, peitos turbinados, coxas roliças... Atribuindo,assim um valor maior ao produto aos olhos das também  marionetes chamadas consumidores.

No campo das artes, o que é retratado pelas fotografias, pela música, pelo cinema??? Se for levada à apreciação para um grupo de adolescentes a letra de Luísa, de Tom Jobim, por exemplo, entre outras possíveis obras maravilhosas de nossos compositores como Chico, Djavam, Renato Russo, entre outros, haverá uma ojeriza quase total.Pois o que é ouvido e apreciado pela maioria que se diz moderna são letras que incentivam suas musas inspiradoras a se rebaixarem cada vez mais em sua condição de meros objetos de prazer carnal.

 O que leva uma moça a rebolar com as pernas semi aberta ao som de algo que diz: “Bicho que mata homem mora debaixo da saia. Tem um buraco no meio, onde a madeira trabalha. É no meio que a madeira trabalha.” Ou “Dança piriguete, rebola piriguete...”

Precoce é cada vez mais a exposição sexual das meninas incentivadas pela moda, pelo ritmo, pelos costumes. Com isso, associado à cegueira, ou ignorância da família, tem-se os casos de doenças e gravidezes indesejadas e em idade inapropriada, pois os protagonistas destes filmes não sabem nem o que desejam para si que de lá o que fazer com outro ser que “se atreveu” a penetrar numa situação de puro gozo.

O uso de drogas e suas conseqüências é um caso que nem precisa de justificativas. Todas as frustrações, inseguranças, inadequação social etc. levam os “moderninhos” a buscarem um bálsamo que os acorrenta a um sofrimento cada vez maior. Quando ouvia, por exemplo, o Mc Frank chamá-la para o carpe diem talvez essa adolescente não tenha imaginado onde sua precocidade a poderia levar.    

Aqui é chapa quente, é vara, linguadinha
na xotinha,na bundinha
no peitinho, na boquinha
Vai novinha vai novinha
Eu vou te deixar maluca tu vai ficar suadinha
Vai novinha vai novinha
Você vai ficar maluca vai tremer suas perninhas.
(FRANK. Mc. 200?)

E o Tigrão, prometendo calor, proteção? Todo o prazer que nunca viu a faz se esquecer que a mulher deve ser valorizada pela sua essência , não pelo seu corpo que um dia envelhece , morre e apodrece.

Pras thuthucas, pras manhosas,
chegamos no sapatinho,
O tigrão tá ligado,
E também o bonde do vinho.
Juntos nos unimos para então te dar prazer,
De todas as maneiras para te satisfazer,
Quer pressão, quer pressão,
Vem com o Bonde do Tigrão,
Toma, toma com carinho,
Vem com o Bonde do Vinho. 
(TIGRÃO, 200?)

Será que não está havendo uma deturpação do que é a liberdade feminina? O fato de se submeter às exigências machistas para ser aceita como a namorada, a esposa ou uma profissional não faz com que essas mulheres percam sua identidade e passem a ser meros bonecos? Agir do mesmo modo que o homem, se expor, ter vários “namorados” numa noite de baile, transar ao público, enquanto dançam num trenzinho, é ser moderna? Parece que é imitar o comportamento masculino no que este tem de mais sórdido é a receita de algumas “artistas” que o povão aprova nos grandes centros brasileiros.

Na melô que tá na moda
com seu gato eu vou metê
de quatro, de lado e por traz
mete tudo eu vou gemer
O tempo já é moderno
e sexo tem que variar
se eles querem  que você  mama
manda eles te chupar
Canguru perneta
de quatro, de lado
lingüinha na ...
Sem neuroze
Goza na boca
goza na cara
goza onde quiser
Bota na boca
bota na cara
bota onde quiser
Então discuti
motel com hidromassagem
tirar onda pra elas
é viver de sacanagem
o gatinho até gosta
mas não sabe como é
mas se ele paga o motel
ela faz o que ele quer
De quatro, de lado
na theca e na boquinha
depois vem pra favela
toda fresca e assadinha
Então discuti
motel com hidromassagem
tirar onda pra eles
é viver de malandragem
o gatinho até gosta
mas não sabe como é
mas se eu pago o motel...
eles faz o que eu quiser
Abre as perna
Mete ai, vaaaii..
Então tira a camisa
bota aqui
entra e sai
abre as perna mete  ali vaai..
(BARRACO, 200?)

É interessante que os educadores tentem levar seus jovens a refletirem as suas escolhas para que, assim, analisem os prós e contras de ações que a mídia, no ensino da gana por dinheiro, poder, manipulação, desprezo pelos valores vem imprimindo cruelmente nas mentes imaturas dessas jovens. A família deve se manter forte nessa luta injusta com a deformidade de caráter que impera, mas, acima de tudo deve mostrar pelo próprio exemplo o  que realmente vale e persiste na vida.

A estas que pensam que um apoio masculino é chave mestra para o crescimento, a aceitação como mulher na sociedade. Que se sentem incapazes de conquistar seu espaço, entre outras desculpas, devemos relembrar a voz de Virgínia Woolf no livro Um teto todo seu onde mostra que mulher precisa de independência profissional e financeira para ser feliz e realizada. Ela puxa a orelha das acomodadas de seu tempo, quando diz:

Será que posso também lembrar-lhes que a maioria das profissões está aberta a vocês há quase dez anos? Quando refletirem sobre esses imensos privilégios e sobre a extensão de tempo em que vêm sendo desfrutados, e sobre o fato de que deve haver, neste momento, umas duas mil mulheres capazes de ganhar mais de quinhentas libras por ano de um modo ou de outro, vocês hão de concordar que a desculpa da falta de oportunidade, formação, incentivo, lazer e dinheiro já não se aplica. (WOOLF, p.147)

Para finalizar, o que deve ser lembrado é que a mulher deve aprender a se amar mais e vez de esperar que a amem. O seu poder deve estar no poder de argumentação, no desempenho intelectual, na arte da dança, não relação sexual sonorizada; do canto, não gritos de êxtase de gozo; e na participação consciente na sociedade auxiliando a construção de uma geração de pessoas cientes de seus limites e capacidades. Para isso não é preciso rebolar, ser apalpada, gemer, nem se expor como jaca na feira. É preciso apenas escolher um caminho, selecionar os valores ensinados,que nem sempre vêm da família, determinar uma meta. E lutar pelo sonho de ser e não apenas de ter isto ou aquilo; pois nem sempre o verdadeiro dono  é realmente o indivíduo  que se considera possuidor.

2 comentários:

Fabiana e Cida disse...

Profª.Gislene,
Seu texto teve uma boa demonstração do estilo de música que a maioria dos jovens ouvem hoje em dia e que dão tanto valor. Infelismente a maioria dos mesmos,praticam essa liberdade de forma vergonhosa.
Parabéns pelo excelente texto.
Espero que todos/todas reflitam sobre o mesmo.
Fabiana e Cida

Anônimo disse...

Parabéns professora.

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